4.7.13

Death mask photo

Imagino como será a minha cara quando morrer. Ao pensar nisto, hoje de manhã ao acordar,  nem sequer me imaginava velho numa qualquer situação (tombado sobre os papéis na secretária, deitado na cama, estatelado no alcatrão...), mas sim a minha cara actual, o homem de 32 anos. Seria como estar a dormir? O meu tio, quando o vi no caixão, parecia dormir. Estava sereno, tinha uma expressão de miúdo. (Sereno ou inerte? Qual é a diferença?) Será a minha expressão inerte como quando durmo? Às vezes não consigo adormecer porque tenho medo de não acordar. Fico deitado a ouvir os sons todos que surgem, um motor, um carro, gatos, a mulher que puxa o lençol e respira pesadamente leve. A casa respira de noite, estala  as suas armações interiores como um glaciar a quem puxaram o lençol. E não consigo dormir. Tenho pavor. É difícil lidar com coisas com as quais é impossível deter o mínimo de controlo. Nomeadamente, a morte. A vida controla-se, ou antes, gere-se o melhor que se pode: evitar gorduras, olhar antes de atravessar, não sair quando há trovoada. A morte não. É mais fácil lidar com um estranho, falar com ele, desprezá-lo, provocá-lo. A morte nem resposta dá. Estou no tecto do quarto a olhar para mim. Durmo? Estou sereno? Qual é a expressão na minha cara?


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