17.2.12


E assim fica um pobre castanheiro para sempre preso ao Estado Novo, através de uma linguagem que nos é tão familiar, embora demasiado vaga e, claro, doutrinária. Haverá uns que talvez achem correcto que se deveria voltar a usar dessa maneira de falar e escrever, nem que fosse só para ultrapassar estes anos próximos, dando esperança ou outra palavra qualquer que se costume usar nestas frases. Seria demasiado perigoso, dirão outros, e prova disso é o padre que no Telejornal diz que é pena que as mulheres não fiquem em casa com os filhos. Ele até diz bem, que é pena, pois foi educado, como o castanheiro, para sentir pena dos coitadinhos em vez de os ajudar (e este ajudar específico, pelo menos o meu, não é a esmolinha nem a sopinha quente mas bem mais que isso). Pena é ele - e outros tantos que ainda não morreram ou que deixaram as suas ideias por aí - pensarem assim. E assim vai passando o tempo, assim se vai sentindo pena e dizendo coisas parvas na televisão pública. Só que o castanheiro não tem culpa, nunca teve. Se foi obrigado a ouvir algaraviadas na escola, de quem foi a culpa? (E porque é que tem sempre de haver culpados? Isto aqui não é nenhum canal de televisão.) Então porque se diz que se mesmo que as tivesse ouvido, porque não se ergueu delas, porque não partiu para algo melhor, porque não procurou procurou procurou? Ele tem uma desculpa, tem raízes. Nós não.

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