15.5.12

Este sábado fui ao Jardim Zoológico. Tinha lá ido pela última vez há quase 25 anos. Ao entrar, percebi porquê: poucos visitantes vêm sem crianças, e desses poucos quase todos são casalinhos adolescentes. Também entrei sem crianças. Na verdade, trouxe só algumas sandes e garrafas de água. Esta foi apenas outra das raras vezes que visito Lisboa e fui logo estacionar ao lado daquela que tinha sido a miúda mais gira do meu liceu. Consegui não ser visto; toda aquela mistura de coisas que se sente quando reencontramos antigos colegas do liceu costuma deixar-me tal e qual essa mesma mistura, impercetível, estranha, azeda, mesmo que esses colegas se venham a tornar soccer moms bem sucedidas economicamente 15 anos depois de serem o centro das atenções numa qualquer escola secundária de uma cidade de tamanho médio.

Uma vez lá dentro, é bizarro. Se um zoo é talvez a coisa mais antinatural possível, raptar animais do seu meio natural, expô-los numa montra e cobrar dinheiro por isso pode bem ser um resumo ideal da humanidade. Ou pelo menos da sua civilização ocidental. Mas não foi para pensar nisto que lá entrei. Vim a descobrir que já não se dá uma moedinha de 20 escudos ao elefante para ele tocar o sino.

À tarde, meti-me na Feira do Livro, curiosamente mais caótica. (Ou naturalmente, o que lhe dá logo o carácter de um oposto.) Em contraste com o Peixoto cuja fila para autógrafos contornava o Marquês, dou de caras com o valter hugo mãe num pavilhão só para ele sentado num sofá branco a sorrir para quem passava, completamente sozinho, numa exposição ridícula e patética, tristemente semelhante ao que vi durante a manhã.

A poesia é feita contra todos, e por um só; de cada vez, um e só. E quem chama àquilo literatura merece uma rajada de balas.

Sem comentários:

Enviar um comentário