3.12.09


Hoje, depois de me ter pedido um livro, ao dá-lo à velha, a sua mão roçou sem querer nuns dedos meus. Fiquei horas a sentir aquele toque único e frio na minha pele. Foi desconfortável. Não que eu prefira teclas, loiça ou tecido, mas abominei aquele acidente durante horas, e já a tarde era noite e já a minha irritação doía e espalhava-se pela mão. Por vezes queria coçar o canto do olho, ou os lábios, ou cofiar um pouco a barba, mas aquela recordação fria era um nojo, eu já nem me conseguia tocar a não ser se lavasse antes as mãos. Tivesse eu um cutelo por perto e teria sacrificado o dedo. Talvez a satisfação, o alívio estivessem no fio dessa lâmina. Imaginei-me até a ir aparar um livro na guilhotina e a provocar um pequeno acidente, apesar de a segurança da máquina incentivar uma maneira hábil, inteligente e difícil de o fazer. Eu só me queria livrar do nojo do contacto. Preferi esta tarde mil vezes o pó dos livros, e o seu cheiro a décadas que por vezes me irritava o nariz, àquelas mãos desconhecidas, tão longemente anónimas, que era assim que deveriam ter ficado. Há momentos nos meus dias em que pedir um café e agradecer depois deveria ser o único contacto humano.

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